terça-feira, 7 de agosto de 2012

Jogo #135 História do #86 se repete, mas Celso Roth muda de atitude no Cruzeiro ao voltar a perder em casa, agora para a Ponte Preta

A torcida do Cruzeiro quer voltar a ser feliz e quer agora. E quanto mais insistentemente ela deseja que esse "agora" chegue logo, mais longe ele fica.

A tensão da torcida com o time e a forma como o técnico Celso Roth vinha lidando com isso já foram abordadas: podem ser encontradas aqui.

Desde a 5ª rodada, quando um jogador faz algo errado, a torcida começa a vaiá-lo, grita o nome de um substituto, e o técnico Celso Roth acaba fazendo a substituição para diminuir a pressão. E isso explica o princípio de crise que se instalou no primeiro tempo do jogo contra a Ponte Preta, em Belo Horizonte.

O Cruzeiro pressionava desde o início do jogo, mas em sua primeira oportunidade real, a Ponte Preta fez 1 a 0. Aos 17 minutos, Marcinho fez um excelente passe da intermediária esquerda para Cicinho, completamente desmarcado, entrar na grande área e dar um toquinho por cima do goleiro Fábio quando ele saía do gol.

Cansados de sofrer desde o ano passado, quando o time lutou contra o rebaixamento até a última rodada do Brasileirão, e sentindo na pele o crescimento do rival Atlético-MG, campeão mineiro (invicto) neste ano e líder da classificação da Série A até aqui, os cruzeirenses não vêm lidando bem com os dissabores. Voltar a ficar atrás no placar é um martírio que se prolonga há mais de um ano.

Nesse contexto, um erro comum pode tomar proporções inimagináveis na tensão da arquibancada.

Aos 29 minutos, a caça às bruxas recomeçou: Charles errou um simples domínio de bola e foi muito vaiado. Bom conhecedor do Cruzeiro, onde já jogou de 2003 a 2005, em 2007 e 2008 e para onde voltou no ano passado, o volante Charles deve ter percebido que faria parte do roteiro já vivido pelos também volantes Amaral e Everton e pelo atacante Borges (os três substituídos em jogos diferentes após serem vaiados e o nome de um reserva ter ecoado). Se antecipou: chamou o técnico Celso Roth e gritou duas vezes: "se quiser me tirar, pode me tirar". Logo em seguida, foi vaiado ao tocar na bola e passou a fazer gestos pedindo que a torcida o vaiasse ainda mais, no que foi atendido, evidentemente.

As inusitadas reações de Charles, de 27 anos, parecem resultado de 2 indignações: contra a impaciência da torcida e contra as decisões do técnico Celso Roth de buscar diminuir a tensão no estádio atendendo ao furor emotivo das arquibancadas nos jogos anteriores. A arquibancada deixou clara, em uníssono, seu veredicto: "Ei, Charles, vai tomar..."

Mas o destino foi benevolente com a revolta do volante. Apenas 2 minutos depois do coro, Roger fez uma assistência clássica da intermediária direita para Marcinho, que ficou completamente livre na frente do goleiro Fábio mas, ao tentar o canto direito, chutou para fora. Naquela atmosfera de confronto, não faz bem tentar imaginar o que poderia acontecer se saísse o segundo gol da Ponte Preta no Independência.

E no último lance do primeiro tempo, Montillo foi com a bola pela esquerda e chutou para a pequena área, Tinga não alcançou, mas atraiu o goleiro Roberto, e a bola sobrou limpa para Borges chutar da pequena área para o gol vazio.

Tudo mudou. Agora satisfeita com a luta de sua equipe, a torcida passou a gritar o nome de Charles, que saiu correndo (chorando) para o vestiário.

No intervalo, o técnico Celso Roth mudou sua atitude. Manteve Charles e fora do microfone disse aos repórteres: "Eu fui coerente. O grupo todo está com o Charles".

Acredito que tenha sido a decisão correta.

Para mim, e sempre disse isso, a torcida é a razão de ser do futebol e deve ser respeitada, afinal, o que diferencia um grande clube de um pequeno é se ele tem ou não uma grande massa de torcedores que atraia anunciantes e investimentos para ele se tornar ainda maior (se a receita for bem administrada).

Esse respeito se dá revelando talentos com paciência, contratando com sabedoria, treinando com seriedade, honrando a camisa minuto a minuto e não se deixando levar pelo impulso do desejo de ser feliz o tempo todo. Foi o que fez Celso Roth.

Mas o clima no vestiário durante o intervalo mexeu demais com o time do Cruzeiro, que voltou aceleradíssimo  para o segundo tempo, receoso do que encontraria pela frente. E deu de cara com os cruzeirenses gritando em coro o nome de Charles, exaltando-o.

Logo aos 2 minutos, Marcinho bateu uma falta da intermediária, a bola quicou na pequena área e passou acima das mãos do goleiro Fábio, que parece imune às intempéries emotivas dos torcedores. "Se o Fábio erra, é porque não é o nosso dia", parecem constatar os cruzeirenses.

E não era, mesmo. No minuto seguinte, Borges acertou a trave. Aos 4, o goleiro Roberto defendeu chute de Montillo, e aos 5 fez ótima defesa em cabeçada de Léo, após escanteio. Roberto voltou a brilhar aos 25, ao conseguir evitar outro gol em cabeceio à queima-roupa de Borges.

A defesa conseguiu cortar boa finalização (veja só!) de Charles, aos 31 e o goleiro pegou também a finalização fraca do mesmo Charles quando ele tentou aproveitar o rebote.

Daí para a frente, o Cruzeiro tentou mais 4 vezes, mas não conseguiu acertar o gol.

Um novo Cruzeiro deve sair desse jogo.

Ps: Para a súmula oficial do jogo, Marcelo Oliveira não entrou em campo aos 28 minutos do segundo tempo. Quem jogou foi Thiago Carvalho, porque o Cruzeiro relacionou Marcelo Oliveira com a camisa 13, mas quando ele entrou em campo, vestia a 14. Como não levou cartão e não fez gol, o erro não terá maiores consequências.

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