quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Jogo #214 Wellington Nem faz gol de cabeça no Santos, Samuel, golaço, e Fluminense assume a liderança com serenidade, finalmente

Entre um cliente e outro que ia embora, o porteiro da churrascaria ajeitava o minúsculo fone no ouvido direito. Discretamente. Na praça de alimentação, o balconista do quiosque de pão de queijo olhava constantemente para o relógio e garantia que o radinho de pilha ficasse bem escondido. O volume, baixinho. No Manoel & Juaquim, o garçom sempre dava um jeito de passar por uma das mesas e perguntar "cuméquitá?". Em casa, o seu Benedito não despregava o olho da TV, apesar de o seu São Paulo estar de folga. Todo mundo torcendo por uma vitória do Santos. Todos de olho grande, gigante, na liderança do Brasileirão.

No Engenhão, um jogo limpo, na maior parte do tempo, lento. As pouquíssimas faltas, a marcação à distância e a liberdade para arrancadas eventuais em contra-ataques fizeram lembrar os tempos em que paulistanos e santistas eram recebidos no Salão Nobre das Laranjeiras para um belíssimo jantar na noite anterior aos jogos. Talvez o uniforme retrô do Fluminense tenha despertado a memória de tempos registrados em preto e branco apenas no papel de imprensa. Mesmo fotos eram raras. Naqueles tempos, o Santos não vestiria azul de forma alguma. Talvez, nem no terno indispensável para o jantar nas Laranjeiras se permitiria azul, embora isso não seja verdade.

E no ritmo arrastado que só começou a ser quebrado em 1923, pelos amadores de fachada do Vasco, o Fluminense foi em busca da tão cobiçada liderança do Brasileirão-2012. O técnico Abel Braga deixou claro antes de a partida começar: "Nada de ansiedade". Assim foi. 

Quando o Fluminense empatava, assim foi.

Quando Bill mandou para o alto uma rebatida do goleiro apesar de o gol estar aberto, aos 11 minutos, assim foi.

Quando Wellington Nem perdeu um gol incrível, completando para fora de carrinho, da pequena área, assim foi.

E assim foi mesmo aos 20 minutos, quando Jean cruzou da esquerda da grande área, e Wellinton Nem conseguiu mandar para dentro do gol, de carrinho, da pequena área, de novo.

Aos 18 minutos, Gerson Magrão cruzou para André completar de carrinho para o gol. E assim foi, também no empate do Santos.

E assim foi nos contra-ataques desperdiçados, nos passes errados e até mesmo nos parcos cartões amarelos.

E por incrível que pareça, assim foi também aos 43 minutos do primeiro tempo, quando Wagner cruzou da ponta esquerda e o pequenino Wellington Nem teve espaço para marcar o segundo gol do Fluminense de cabeça. Sim, caro leitor, de cabeça. Eu mesmo vi. Ninguém me contou. E se tivessem contado, eu não acreditaria. Por dever de ofício. Foi a quinta finalização de cabeça de Wellington Nem no campeonato.

Seria necessário perguntar aos senhores de bigode que mesmo no verão carioca desfilam seus ternos pelas Laranjeiras se alguma vez Wellington Nem fez um gol de cabeça mesmo nos coletivos ou no rachão recreativo. Contra o Santos, ele fez. Eu vi. Você verá. Veremos todos.

Erga-se um busto alado no Engenhão e outro nas Laranjeiras em homenagem ao gol de cabeça de Nem.

Outro para Samuel, que recebeu na esquerda da grande área aos 32 minutos do segundo tempo, percebeu o goleiro Rafael adiantado e mandou a bola no ângulo aposto. Um golaço que acabou com a serenidade que pairava obediente sobre o Engenhão, expulsa pelo pó de arroz que tomou o céu.

E foi, foi, foi... Assim foi que o Fluminense chegou à liderança do Brasileirão-2012. Sereno como queria Abel Braga. Quem diria. Ele sabe: o Atlético-MG tem um jogo a mais por fazer. Agora, sob pressão.


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